A maioria das pessoas que pratica escalada é tarado pela coisa! Não consegue viver sem! (Pelo menos os que eu conheço.)
Normalmente demora algumas sessões, mas em muitos casos o mosquitinho transmissor do vírus do climb te infecta logo nos primeiros contatos com a pedra ou mesmo o muro.
Talvez seja a evolução individual, que principalmente nas primeiras escaladas é muito nítida. Aquele movimento que não saiu de jeito nenhum num dia, no outro sai relativamente fácil. Aquele V2 ou aquele 7º que parecia completamente impossível quando você começou a escalar, depois de um tempo fica totalmente “fazível” e você já olha diferente pros V5 e pros 8º e assim por diante.
Força, encaixe, memória corporal, sei lá o que é... talvez tudo junto!? O que eu quero dizer é que o “trem” vicia mesmo! E depois de viciado a coisa passa a tomar conta da sua vida. Você não quer mais ficar de bobeira nos fins de semana, começa a se ligar um pouco mais na alimentação porque ganhar peso é o maior preju, seu carro está sempre sujo por causa das estradas de terra, sua mão vai engrossando, você começa a andar com uma galera diferente e quando se dá conta, tá refazendo mentalmente uns movimentos no meio de uma aula ou no trampo.
Brincadeiras a parte, é comum que a vida mude depois de começar a escalar. Realmente, escalada muito mais que esporte é estilo de vida.
Entretanto, para alguns o coisa vai além. Você quer escalar todo dia, começa a mandar umas coisas realmente difíceis e chega um momento que um mero mortal só evolui com dedicação extrema e se quiser evoluir tem que a colocar a escalada em primeiro lugar na sua vida em detrimento de trabalho, família, amigos, estudos... Maior doidera! Ainda mais no Brasil, onde ninguém vive de escalar! Alguns vivem pra escalar, mas a renda vem de outro lugar. A verdade é que a escalada brasileira ainda está em processo de desenvolvimento e ainda não oferece aos praticantes as mesmas condições dos países com tradição no esporte.
Mas isso está mudando. Com o crescimento da população de escaladores, o desenvolvimento das condições de treino (treinadores e academias) e das áreas de escalada no Brasil a tendência é que as oportunidades também aumentem. As novas gerações têm muito mais condições de realizar sonhos que até pouco tempo pareciam muito distante dos brasileiros. Felipinho é prova viva disso! Começando na adolescência, com o treino certo, em um bom ginásio e com muita vontade de escalar, certamente aparecerão novos destaques na escalada esportiva brasileira. Isso gera um círculo virtuoso:

Isso está acontecendo hoje no Brasil devido ao empenho de "monstros" de um passado recente da escalada esportiva. Essa galera começou a escalar no século passado, não haviam muros de resina e as áreas de escalada eram subdesenvolvidas ou mesmo virgens. Não havia V10 nem 10º grau encadenado por brasileiro e os poucos ídolos eram estrangeiros. Tinha que querer muito escalar e eles puxaram o grau para cima, impulsionaram o desenvolvimento da escalada esportiva brasileira, certamente merecem créditos pela contribuição ao esporte!
No final das contas, a pessoa que começa a escalar hoje no Brasil tem muito mais chances de alcançar o nível de desempenho dos profissionais gringos e a tendência é melhorar!
De qualquer forma, sendo profissional, amador, fanfarrão, etc, o que importa é subir pedra!